Drama de Koltès diminui a distância entre França e Brasil
Destaque no 8° Festival Internacional de São José do Rio Preto é uma espécie de anúncio do Ano da França no Brasil, « O Retorno ao Deserto », de Bernard Marie Koltès, pela Compagnie Dramatique Parnas, dá mostras de uma nova postura nas relações culturais entre Brasil e Europa , ou o « aqui » e o « lá fora »,como costuma dizer nossa claustrofobia neocolonialista.
Dirigida por Catherine Marnas, o projeto rompe com a tradição catequética das luzes sobre a floresta tropical , que desde Louis Jouvet até Peter Brook alimenta uma expectativa de aprendizagem com os mestres estrangeiros.
Discípula de Antoine Vitez, Marnas busca um teatro atento em reverberar o contemporâneo , o popular e o mutinacional, mais do que promover uma cartilha de franceses consangrados.
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Inspirado talvez pelo conceito « artaudiano » do duplo, a maiora dos personagens é desobrada em dois , cada um falando seu idioma. (…)
Não se imagine aqui franceses soprando seu espirito para corpos brasileiros. Se , na dupla de Mathieu , Davi Rosa tem um desempenho carismaticamente caricatural nuançado pelo melancólico Julien Duval, Gustavo Trestini e Olivier Pauls compartilham a mesma visceralidade. Para Mathilde, é Bénédicte Simon que fixa uma máscara de escárnio atenuada pela sutil elegância de Sandra Corveloni ( que recentemente em Cannes ajudou a desfazer as fronteiras anacrônicas entre o aqui e o lá fora) .
Assim, o tema de desenraizamento , das falsas armadilhas da herança contra o estrangeiro , universaliza-se pela leitura franco-brasileira.
Sérgio Sálvia Coelho